ORCHIDACEAE

Cattleya intermedia Grah.

Como citar:

Danielli Cristina Kutschenko; Tainan Messina. 2012. Cattleya intermedia (ORCHIDACEAE). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

VU

EOO:

835.252,925 Km2

AOO:

84,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

Parece haver um equívoco na distribuição proposta por Barros et al. (2012), que cita os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Menini Neto (com. pess.) acredita que a real distribuição da espécie seja apenas os estados do Sul e Sudeste.Sander (2012) afirma que a espécie ocorre preferencialmente entre 0 e 50m de altitude, mas pode ocorrer a até 300m.

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2012
Avaliador: Danielli Cristina Kutschenko
Revisor: Tainan Messina
Critério: A4cde
Categoria: VU
Justificativa:

<i>Cattleya intermedia </i>é uma espécie distribuída nos Estados do Sul e Sudeste do Brasil em ambientes de Mata Atlântica. Tem alto valor ornamental, o que a tem levado à pressão de coleta para fins lucrativos desde a década de 1940. Além disso, tem distribuição dentro de uma das áreas mais desenvolvidas economicamente do Brasil e, dessa forma, a perda e fragmentação de habitat são ameaças à sua população. Estudos genéticos indicaram que a hibridização da espécie também tem sido uma ameaça, alterando drasticamente o fluxo gênico entre subpopulações. A espécie tem algumas ações de conservação regionais como estudos de cultivo ex situ, e preservação e reintrodução in situ. Apesar disso, suspeita-se que já tenha sofrido uma redução de 30% de sua população nos últimos 50 anos devido à coleta indiscriminada; e caso não haja ações de monitoramento, proteção e conservação da espécie em nível nacional, esta poderá sofrer um declínio de mais 30% de sua população nos próximos 50 anos. Dessa forma, <i>C. intermedia</i> encontra-se "Vulnerável" (VU).

Perfil da espécie:

Obra princeps:

C. intermedia foi descoberta em 1824 por R. Graham e descrita em 1828 pelo botânico William Jackson Hooker na obra Botanical Register, vol. 2-2 st. 2851 (Sander, 2012).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Sim
Detalhes: ​A espécie, assim como seus híbridos, chegam a valores absurdamente altos. Englert (s.d.) comenta já ter exportado exemplares por até U$3.000.

População:

Detalhes: A espécie apresentou valor de importância intermediário em relação à outras espécies epífitas sobre o forófito Ficus organensis na planície costeira do Rio Grande do Sul (Gonçalves; Waechter, 2002). Saunder (2012) afirma que era conhecida, a partir dos anos 40 do século passado, a atividade predatória de alguns exportadores" que, aproveitando-se da ausência de leis e controles mais severos, promoviam a colheita indiscriminada de milhares de exemplares que eram remetidas para o exterior em grandes quantidades a preços irrisórios.

Ecologia:

Biomas: Mata Atlântica
Fitofisionomia: A espécie foi amostrada em floresta estacional semidecidual por Brustulin e Schmitt (2008). Matas paludosas associadas ao bioma Mata Atlântica. Em São Paulo e Rio de Janeiro pode ser encontrada em manguezais (R.B. Singer, obs. pess. apud Buzatto et al., 2010)
Habitats: 1.6 Subtropical/Tropical Moist Lowland, 1.7 Subtropical/Tropical Mangrove Vegetation Above High Tide Level
Detalhes: Epífita (Gonçalves; Waechter, 2003; Brustulin; Schmitt, 2008; Buzatto et al., 2010), ou rupícola, com até 35cm de altura, frequente em matas paludosas do bioma Mata Atlântica, em altitude moderadas a baixas. N Parque Municipal Henrique Luiz Roessler (Parcão) a espécie apresentou floração no mês de setembro (Brustulin; Schmitt, 2008). Englert (s.d.) afirma que o habitat de C. intermedia, no Rio Grande do Sul, se estende por todo o litoral e acompanha também as margens dos cinco rios que formam o lago Guaiba (Caí, Taquarí, Sinos, Jacuí e Gravatí). Mais ao sul, também no litoral, a espécie é encontrada às margens da Lagoa dos Patos e em banhados com corticeiras que se estendem até a Reserva Ecológica do Banhado do Taim. Sander (2012) comenta que no Rio Grande do Sul e no sul de Santa Catarina suas hospedeiras preferenciais, são as Corticeiras e as Figueiras-do-Campo. Seja qual for o hospedeiro, ela sempre será encontrada instalada numa posição bem arejada e ensolarada e com sua maior densidade populacional na face leste dos capões de mata

Ameaças (6):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Agriculture
Sander (2012) acredita que dentro de alguns anos a espécie só estará presente dentro de áreas de conservação e em áreas particulares de proprietários bem esclarecidos quanto aos princípios da conservação. O autor comenta que grande parte da metade sul do estado do Rio Grande do Sul tem expandido a cultura de cereais e arroz. Essa prática exige terras baixas, planas e alagadiças como as que abrigam os remanescentes dos hospedeiros naturais da espécie.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1 Habitat Loss/Degradation (human induced) local
A vegetação na Fazenda São Maximiano está inserida em Floresta Estacional Semidecidual Submontana. A área é um importante centro de biodiversidade que agrega elementos da Mata Atlântica. Embora essa vegetação seja um remanescente da vegetação original, a área vem sofrendo, ao longo das últimas décadas, diferentes pressões antrópicas, tais como extração de granito nos arredores, criação de gado e silvicultura de espécies exóticas (Buzatto et al., 2007).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.3.4 Non-woody vegetation collection
Possivelmente, essa espécie foi e tem sido extraída das formações florestais devido ao seu elevado valor ornamental (Brustulin; Schmitt, 2008). Saunder (2012) citam que a coleta predatória no Rio Grande do Sul também tem contribuído para o processo de extinção da espécie.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1 Habitat Loss/Degradation (human induced) local
Gonçalves e Waechter (2003) amostraram a espécie no entorno da cidade de Terra de Areia no norte da planície costeira do Rio Grande do Sul. Os autores afirmam que a vegetação local encontra-se bastante alterada pela ação antrópica, havendo alguns fragmentos de florestas arenosas, turfosas e pluviais.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
8.4 Hybridizer
Machado Neto e Vieira (2011) conduziram experimentos direcionados a variedade genética de C. intermedia. Os autores avaliaram diversos typus da espécie provenientes de diferentes áreas de ocorrência, assim como diversos híbridos não naturais através do marcador RAPD. Eles revelaram que todos os híbridos eram originários de populações do Rio Grande do Sul. Segundo eles, esse resultado pode estar relacionado com a intensiva prática de hibridação realizada em Santa Catarina e concluem que este fato pode estar alterando drasticamente o fluxo gênico entre populações. Os autores ainda afirmam que em populações submetidas à constantes seleções, onde apenas os indivíduos fenotipicamente superiores foram promovidos para a reprodução, os alelos que controlam caracteres de interesse tiveram sua freqüência aumentada, levando a perda de diversidade das plantas.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.7 Fire local
Saunder (2012) ainda afirma que o fogo, acidental ou criminoso, como ocorre periodicamente na Reserva Ecológica do Taim, têm destruído Bromeliacea e Orchidaceae.

Ações de conservação (4):

Ação Situação
1.2.1.3 Sub-national level on going
A espécie foi considerada "Em Perigo" (EN) na Lista vermelha da flora do Rio Grande do Sul (CONSEMA-RS, 2002).
Ação Situação
5.7.1 Captive breeding/Artificial propagation on going
Alvarez-Pardo e Ferreira (2006) demonstraram, em seu experimento, que a espécie apresenta viabilidade de até 90% quando armazenada em 5ºC ou -18ºC por até dois anos. De mesma forma, (Hosomi, 2009) obteve altos índices de germinação após armazenamento a -18ºC. Schnitzer et al. (2010) apresentam resultados após testes de cultivo em diferentes substratos. Após os experimentos, os autores indicam o substrato mais apropriado para o cultivo da espécie. Dorneles e Trevelin (2011) conduziram experimento de reintrodução da espécie com indivíduos provenintes de propagação in vitro. As autoras avaliaram a aclimatização dos indivíduos em dois diferentes forófitos. A partir dos resultados obtidos nos trabalhos citados, é possível o desenvolvimento de um protocolo de armazenamento, germinação ou propagação de sementes e reintrodução da espécie.
Ação Situação
4.5 Community-based initiatives on going
​Em 2007 a Associação da Cttleya intermedia do município de Santa Cruz do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, definiu um estatuto que contempla diversas frentes conservacionistas exclusivas para a espécie.
Ação Situação
5.7 Ex situ conservation actions on going
​Segundo Buzatto et al. (2010) comentam que trata-se de um táxon largamente cultivado no Brasil e no exterior.

Ações de conservação (1):

Uso Proveniência Recurso
Ornamental
​Espécie ornamental (Brustulin; Schmitt, 2008). De acordo com Machado Neto; Vieira (2011), C. intermedia é tão ornamental que já foram produzidos cerca de 2800 híbridos a partir de cruzamentos realizados com a espécie.